Denis Chiasson |
Trouxe-a para casa e a coloquei num copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e uma flor não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor a sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.
Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde nascera. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, de vir jogar lixo neste jardim!
Carlos Drummond de Andrade
Nenhum comentário:
Postar um comentário