segunda-feira, agosto 22

Fracasso de bilheteria

David Hettinger
Não tenho mais o que mostrar. Exibo minha tristeza há tanto tempo que hoje, quando a chamo para vir ao palco, o público resmunga: “Não, não, outra vez?” e forma-se a fila no guichê para pedir o dinheiro de volta.

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Se falo tanto do ato de escrever, é muito menos por conhecê-lo do que por amá-lo apaixonadamente. É, para mim, muito mais uma arte do que um ofício.

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Sofrer é uma das coisas que melhor sei fazer. Sofro por tudo, sofro por nada, pelo motivo certo, pela razão errada, sofro por sofrer.

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Na primeira vez em que exprimi o desejo de ser poeta, isso poderia ser considerado um ato de pura modéstia. Eu tinha menos de vinte anos, e alguns jovens como eu já haviam declarado intenções bem mais ambiciosas, como a de salvar ou destruir o mundo.

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Sobre minha relação com a poesia, o que de mais honesto posso dizer é que tenho sido perseverante.

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O poeta há de ser fiel à sua tristeza. Pode aumentá-la um tantinho; diminuí-la, jamais.

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Continuar escrevendo aos oitenta anos costuma ser um ato muito mais de desespero que de esperança.

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Para rasgar um coração, para dilacerar uma alma, não há melhor instrumento que a voz de Amy Winehouse.

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Quando, nos últimos anos de vida, o poeta foi aniquilado por doenças de todo tipo, comentou-se que era a recompensa mais do que merecida por sua juventude dedicada aos sonetos e a outros abomináveis vícios.
Raul Drewnick

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