Não sabia ele que não havia cara, nem carne nem osso. Antes uma fórmula, um algoritmo, um conjunto de chips. Sentado ao sol na esplanada do centro comercial estaria quanto muito uma fritadeira digital, último modelo, que ele quanto muito poderia levar para casa para o ajudar a preparar o jantar, mas que durante meses havia chamado de querida, amorzinho, Mariana. Claro que naquela noite Francisco chorou enquanto fritava as batatas.
O teste I am not a Robot tem especial importância no site de encontros. Ninguém quer chegar ao final da noite e saber que andou a fantasiar loucuras com um veículo elétrico ou um rádio de pilhas. Contudo, diga-se, achar que um robot para resolver em segundos problemas de complexidade científica não é capaz de distinguir em que imagens existem semáforos ou veículos com rodas talvez seja um pouco ingénuo. Mais facilmente se excluiria um robot com um detetor de metais (coitados dos homens com próteses).
Se o objetivo fosse excluir os humanos, a tarefa seria mais simples. Bastaria colocar uma equação com três incógnitas e cronometrar o tempo de resposta. Mais de dez segundos é de um homem se trata. Talvez um humano com grande agilidade nos dedos conseguisse obter o resultado, com a ajuda de uma calculadora científica, em 30 segundos… nunca menos do que isso.
A solução, claro, poderá ser seguir a lógica inversa, assumindo a inferioridade humana. Ou seja, fazer uma pergunta complexa. Caso a resposta seja lenta ou errada, deduzir que de um humano se trata. O homem é aquele que erra. E esperar que, pelo menos numa fase inicial, os robots demorem a aprender a errar.
Para tudo isto é preciso confiar no computador-capataz. Porque, por incrível que possa parecer, entregaram aos computadores a missão de definir se somos humanos ou não.
Claro que tudo isto ficará resolvido quando nos transformarmos em cyborgs.
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