Dani Padrón |
Hans Christian Andersen (1805 - 1875), graças à sua contribuição para a literatura infanto-juvenil, teve o dia do seu nascimento, 2 de abril, como data do Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil. Além disso, o mais importante prêmio internacional do gênero é o Prêmio Hans Christian Andersen. Abaixo um dos contos do escritor dinamarquês
Uma Rosa da Campa de Homero
Não longe de Esmirna, sob os altos plátanos, para onde o mercador puxa os camelos carregados que levantam orgulhosamente os pescoços altos e pisam desajeitados a terra, que é santa, vi um roseiral florido. Pombas bravas voavam entre os ramos altos das árvores e as suas asas cintilavam, quando um raio de sol tombava sobre elas, como se fossem de madrepérola.
No roseiral havia uma flor entre todas a mais bonita e era para esta que cantava o rouxinol as suas mágoas de amor. Mas a rosa estava silente, nem uma gota de orvalho havia, como lágrima de compaixão, nas suas pétalas. Curvava-se com o caule para baixo sobre umas pedras.
- Jaz aqui o maior cantor da terra! - disse a rosa. - Quero perfumar a sua campa. Sobre ela quero derramar as minhas pétalas, quando a tempestade as arrancar. O cantor da Ilíada tornou-se terra nesta terra, donde broto... Eu, uma rosa da campa de Homero, sou demasiado sagrada para florir para o pobre rouxinol!
E o rouxinol cantou até morrer.
O condutor de camelos chegou, com os seus camelos carregados e os seus escravos negros. O filhinho dele encontrou o pássaro morto. Enterrou-o na campa do grande Homero. E a rosa agitou-se ao vento. Veio a noite, a rosa fechou completamente as pétalas e sonhou... que era um belo dia de sol. Chegava uma multidão de estrangeiros, de francos. Faziam uma viagem de peregrinação, à campa de Homero. Entre os estrangeiros havia um cantor do Norte, da terra das neblinas e das auroras boreais. Arrancou a rosa, premiu-a num livro e levou-a consigo para outra parte do mundo, para a sua pátria distante. E a rosa murchou de pena e ficou no livro fechado, que ele abriu em casa, dizendo:
- Eis uma rosa da campa de Homero!
Ora vejam, isto sonhou a flor que acordou e estremeceu ao vento. Uma gota de orvalho caiu das suas pétalas na campa do cantor e o sol ergueu-se, o dia tornou-se quente e a rosa resplandeceu ainda mais bela do que antes - estava na sua Ásia quente. Ouviram-se então passos, vieram estrangeiros, francos, que a rosa vira no seu sonho e entre os estrangeiros havia um poeta do Norte. Este arrancou a rosa, premiu um beijo na sua boca fresca e levou-a consigo para a terra de neblinas e auroras boreais.
Como uma múmia repousa agora o cadáver da flor na sua Ilíada e como em sonho ouve ela abrir o livro a dizer: "Eis uma rosa da campa de Homero!".
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