"...o meu raio de sol, o primeiro, depois de tantos dias, envolveu a cerca toda num grande amplexo, como que a matar a saudade. Transformou em diamantes e pérolas todas as gotas de água debruçadas à beira das folhas...e enquanto eu olhava, deslumbrado, a demonstração de magia, elas surgiram.
Não sei como, não sei donde: mas, de repente ali estavam. As borboletas. Dir-se-ia que haviam sido criadas pelo sol. Não eram muito grandes, tamanho médio. Todas iguais. Amarelas, de um amarelo claro e vivo, a destacar-se como um grito de alegria sobre o verde lavado da folhagem. Surgiam em bando numeroso, não sei quantas, como um corpo de baile, em piruetas. E em torno dos cachos cor-de-rosa iniciaram o bailado. Subiam, desciam, avançavam, recuavam, cruzavam-se, pousavam um momento para logo alçar-se de novo em voo ondulante, traçando no ar os arabescos complexo de uma coreografia delirante cujas curvas meus olhos hipnotizados não conseguiam acompanhar. Era uma explosão pirotécnica de alegria, em voltejos e rodopios, a celebrar a glória do sol.
O sol demorou-se pouco. Distribuiu carícias e sorrisos e, satisfeito ao ver que tudo estava em ordem neste pedacinho do seu mundo, recolheu-se de novo atrás da cortina para envolver-se no cobertor das nuvens.
O céu fechou-se mais uma vez. A capa cinzenta tornou a se unir, recobertos os rasgões e esgarçados. Não mais se adivinhou o forro azul. E a chuva voltou a cair, mansinha e persistente, prometendo enfiar pelo resto do dia e pela noite adentro.
E as borboletas? As borboletas desapareceram. De repente, como haviam surgido, sem deixar vestígios. Sumiram. Não sei como nem sei para onde. Possivelmente estarão por aí, escondidas no meio da folhagem, esperando que apareça, por poucos momentos que seja, outro raio de sol dentro do qual possam bailar. Esperam serenas porque sabem que outros raios de sol hão de vir. E saboreiam em silêncio a alegria que tiveram..."
Vivaldo Coaracy/ trecho de "Borboletas"
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