terça-feira, novembro 16

Sacola de quinquilharias

Conheço-me o bastante para não querer conhecer-me mais.


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O amor perdoa tudo: equívocos, intrigas, traições. Até, em casos de extrema generosidade, sonetos estropiados.

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Eu só me encontro comigo por acaso ou por azar. Que suplício é, que castigo, eu me ouvir, eu me falar.

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Peguei o meu mapa, o abri, o li, o reli, segui cada etapa. O porto certo encontrei, nadei, mas lá cheguei morto.

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Segundo as más-línguas, o pior dos sonetos ainda está para ser escrito.

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Clássicos são aqueles livros que deveríamos ter lido há trinta ou quarenta anos, mas sempre ficam para as férias que vêm.

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Como diz aquele xenófilo, Machado de Assis é bom demais para pertencer à literatura brasileira.

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Escreva simples. Não enfeite sua tristeza. Se ela puder exprimir-se com um ai, diga isso, só isso: ai.

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Aposentou-se aos sessenta anos, pela prefeitura. Como poeta já estava aposentado desde os trinta, pelos leitores.

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Depois de décadas de crença na esperança, o poeta descobriu que ela é persistente, mas não escreve poemas.

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É um poeta velho, muito velho, de um tempo em que chamar alguém de parnasiano ainda não era uma acusação.

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Sou roto, desmazelado. Se eu fosse Truman Capote, seria Truman Capote esfarrapado.

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Sou nulo, sou nada. Se eu fosse Calderón de la Barca, seria Calderón de la Barca furada.
Raul Drewnick

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