Já tentou a telepatia? Alguém provavelmente irá responder à sugestão com uma boa gargalhada. Ou, quem sabe, com um olhar de compaixão, como o que recebeu García Márquez, de um amigo, ao defender a telepatia como uma “faculdade orgânica”. Conheço, no entanto, quem a pratique sem grandes constrangimentos. Telepáticos, que assim se sabem como quem se sabe notívago, por hábito de um gosto entranhado ou conhecimento de uma infrequentada língua estrangeira.
Gabo brincava telepaticamente com seu amigo desconfiado. Tinha também na família uma avó exímia na ciência dos presságios. Dos telepáticos que conheço, há pelo menos duas escorpianas, e a palavra que me faz rir, nesse caso, é “coincidência”. Uma delas é minha mãe, desde muito tempo, pelo que sei, com livre trânsito pelos becos da minha cabeça. Está certo que as coisas aí se imbricam e, na linha do provérbio do diabo, talvez mais saiba uma mãe por ser mãe do que por ser telepática.
Mas então há essa minha amiga escorpiana, poeta amiga de Cecília, cronista amiga de Clarice, que, não bastasse ser aeronauta e notívaga, tem conversas de silêncio com o Destino de quando em quando. Além de ser habitada por muitas sombras e vozes, essa minha amiga Ângela Vilma sabe expedir e receber sinais em verdadeiros colóquios de pensamento. E antes que seja inevitável especular sobre a relação dessa misteriosa prática com a poesia, vem-me novamente o interlocutor ou destinatário telepático amigo de Gabo, que tomava como acaso os sinais que lhe chegavam. Quantos dos nossos pequenos eventuais clarões não são correios de outra esfera funcionando?
E se o que nos leva, meio distraidamente, até o pensamento do outro é de repente o outro compenetradamente nos chamando? É assim que nos meus dias encontro imprevistos de vitrais e jasmins, que recebo como bilhetes, entre inúmeros outros que, suponho, sequer identifico. Por via das dúvidas, deixo entreaberta a passagem. E daqui envio meus sinais, ou assim acredito. Se chegarão ou a entrada lhes será barrada, se passarão em branco, se serão descridos ou abraçados, tudo se iguala na desobrigação de uma resposta. Mas, sim, há também quem nos responda.
Mariana Ianelli
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