segunda-feira, outubro 28

Sobre ter juízo ou não

Há uma expressão antiga que imagino me cair bem, e que, se eu tiver juízo, será meu lema a partir de agora: aquietar o facho. É bem o momento de viver na terceira pessoa, como um personagem. Não bradar, não clamar, não querer, não reivindicar. Poupar os ouvidos alheios (e os meus também) desta voz velha que, se não se poupar, não conseguirá dar sequer um gemido na hora da libertação. Amor? Atravessar a rua é já uma façanha.

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Um homem de juízo só se mete com literatura depois de perdê-lo.

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A insatisfação com que me vejo é uma dessas que não admitem juízo contrário.

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Tem idade suficiente para se conhecer. Sabe que é fraco de caráter, traidor e covarde. No dia do Juízo Final, se for necessário, entregará a literatura numa bandeja.

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Curioso problema foi levado a juízo em um município rural paulista: um poeta concretista está sendo acusado de atrair os pássaros com os falsos frutos de suas árvores de papel-crepom.

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Se for o caso de fazeres mau juízo de ti mesmo, convém que o faças antes que outros venham a fazê-lo, quase certamente com mais sólidos argumentos.

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E se depois do Juízo Final vierem a prorrogação e os pênaltis?

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Em matéria de amor eu sou como um menino de dez anos, sem juízo nenhum.

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Se tivesse juízo, o soneto já teria mudado de nome.

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Pedir juízo a um jovem é como pedir a um fruto que só se deixe morder quando não for mais apetecível.
Raul Drewnick

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