O que há de inumano, quero dizer, não natural no teatro clássico é que cada palavra tem um significado e uma consequência no desenlace. Quando, por exemplo, desabafamos a respeito de alguém: “Tomara que morra!” — isso é apenas um alívio para a gente e para o supradito alguém, porque tudo continua como dantes. Mas, se a coisa se passa no palco, temos de matar ou mandar matar o outro — o que seria, na vida do lado de cá, uma grande estopada para ambas as partes.
Desconfio até que já disse num destes “agás” que a gente adoece é de nome feio recolhido. Desabafemos, pois, desabafemos…
Nem me digam que o teatro ou o cinema, que são no final a mesma coisa, desperta os nossos maus instintos. Pelo contrário, libera-os. Se você está com raiva de Fulano, basta encarná-lo no vilão do filme, até que “O mocinho” (você mesmo!) o deita abaixo com um soco definitivo e depois, ao encontrá-lo na rua, até o cumprimentará com um condescendente sorriso de piedade.
Em verdade, não estou sozinho no meu ponto de vista. Certa vez, numa clínica mental, ao examinar a sua biblioteca heteróclita (não propositadamente escolhida mas feita de livros doados), espantei-me do assunto de alguns que eu já conhecia e indaguei do médico que me acompanhava se acaso não teriam má influência no espírito dos internados.
E, ante a minha preocupação, ele respondeu-me com um sorriso:
— Não. Em vez de “fazerem”, eles leem…
Nenhum comentário:
Postar um comentário