Um era um boneco duro e frio, mas que lhe dava leite. O outro não dava leite, mas era quente e acolchoado como costumam ser as mães. Então assustavam o macaquinho para ver se ele corria para a mãe que o alimentava ou para a mãe que dava colo. E ele invariavelmente corria para a mãe aconchegante. Acho que uma experiência parecida poderia ser feita não com macacos mas com crianças, e não com mães mecânicas mas com um livro e uma televisão. Uma experiência hipotética, claro; longe de mim sugerir que se coloquem crianças em jaulas para assustá-las e testar suas reações. O que equivaleria à mãe que alimenta mas não dá calor, o livro ou a televisão? Como ainda sou partidário de Gutenberg gosto de pensar que uma criança pode receber tudo o que precisa da televisão, mas que nada substitui o prazer tátil, o calor de um livro, e que sua relação com a informação impressa sempre será mais humana e atraente. Mas tenho a impressão de que a experiência me decepcionaria. Provocada a procurar a informação pelo meio que mais lhe dá prazer ou segurança, uma criança moderna a princípio me encheria de esperança dirigindo-se para um livro.
Mas em seguida me desiludiria. Carregaria o livro até a frente da televisão e o usaria como um degrau para alcançar o botão da TV.
Luís Fernando Veríssimo, "O santinho"
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